Queridos amigos de caminhada
A força mais avassaladora do universo é a compaixão. Ensina o dharma que um grande ser dos mundos supradimensionais olhou para “baixo” e foi tomado por intensa dor ao ver o sofrimento de todos os seres sencientes do sansara. Impulsionado pela força avassaladora da compaixão mergulhou em direção aos 6 mundos e, por onde passava, resgatava todas as criaturas que encontravam-se nesses reinos repletos de dor. Um por um, sem exceção, libertou-os da dor e conduziu-os aos paraísos búdhicos onde não existe sofrimento.
Depois do vastíssimo trabalho ascendeu ao infinito e novamente olhou para “baixo” e, para sua surpresa, os reinos haviam se enchido novamente de seres repletos de dor. Como todo o tempo ele estava ocupado, não pode se dar conta que outros seres morriam e renasciam nas lamentáveis condições do sansara enquanto ele libertava milhares e milhares do sofrimento.
Ao dar-se conta disso, novamene foi tomado por profunda compaixão e tristeza, pois percebeu que todo seu trabalho seria em vão e que dificilmente seria capaz de concluí-lo. Tomado por sentimento, ajoelhou-se e invocou a presença de todos os seres mais sublimes de todos os universos, e rogou em oração, que seu corpo fosse despedaçado e milhões de partículas e lançado aos seis reinos para que nenhum ser deixasse de receber auxílio.
O peso e o poder dessa oração, vindo de um coração tão puro e motivado pela força avassaladora da compaixão, fez com que TODOS OS SERES PERFEITOS DE TODOS OS UNIVERSOS, naquele exato instante, fosse tocados por esse chamado e se voltassem em sua direção. Imediatamente, todos os seres perfeitos se curvaram em direção e ele, tocados pela motivação pura da compaixão. Ao contrário de despedaçarem seu corpo em milhões de pedaços, fizeram nascer milhares de olhos e milhares de braços, para que nunca mais nenhuma oração ou pedido de ajuda pudesse passar despercebido. Assim, até hoje, este ser de imensurável poder continua a vigiar com seus milhares de olhos e auxiliar com seus milhares de braços os infindáveis seres habitantes dos reinos sansáricos que invocam ajuda.
O karma negativo acumulado por outros pode ser anulado pela força da compaixão. Motivado pela compaixão podemos tomar para nós a dor de nossos semelhantes e purificá-la. Talvez não haja ato mais sublime do que invocar o sofrimento alheio e tomá-lo para si em todos os sentidos. O verdadeiro caminhante, aquele que aspira o cume mais alto da montanha, aquele que anela alcançar o estado de iluminação numa só existência, aquele que anela em seu íntimo receber os princípios crísticos antes de perder o corpo físico, deverá necessariamente desenvolver a compaixão a esta profundidade. Eis aqui a generosidade dos Budhas. Nenhum dos milhares de budhas que já existiram ou virão a existir deixou de chegar a esse grau de generosidade.
Esse é um mistério maravilhoso, os mistérios da autonegação absoluta. Esse é o mistério dos seres completamente libertos. Nada importa para eles a não ser a felicidade dos seres sencientes. Nem mesmo seu corpo importa, porque o corpo nada mais é do que um jarro de barro que aprisiona o SER. Os homens despertos não tomam essa frase como um ensinamento teórico ensinamento. Simplesmente a tem como uma verdade encarnada, fruto da vivência pessoal.
A compaixão é a jóia que realiza todos os desejos. Cura, ressuscita, dá vida, transforma, redime e purifica. Quando, motivados por compaixão, invocamos o sofrimento dos seres sencientes, somos arremessados ao mundo do SER e nele nos fundimos, nem que seja por uma fração de segundo apenas. Ao mesmo tempo em que o karma negativo dos seres que são foco de nossa compaixão é purificado, este ato purifica, também, nossos erros cometidos ao longo de incontáveis eras. Dessa forma o caminho torna-se suave e mais rápido.
Alguém certamente perguntará: “Oh, mas não sofrerei por isso?”
Talvez sim, talvez não. Mas o que importa isso?
Para o sábio, o sofrimento tem o sabor de néctar. O sábio transforma o sofrimento em luz…
De qualquer forma, a compaixão é tão avassaladora que o karma negativo é convertido em luz para todos os seres que sofrem e para todos aqueles que tomam para si o sofrimento alheio.
Quando o budha meditava e estava preste a alcançar a liberação completa, os demônios mais terríveis do universo lançaram contra ele uma chuva de flechas flamejantes. Pela força de sua compaixão, todas flechas, instantes antes de atingi-lo, transformaram-se em pétalas de rosa.
Eis a força da compaixão.
Esta é tão poderosa que chega a atuar no psiquismo de quem recebe seu foco. Acaso não podemos sentir a compaixão irradiando em forma de luz e bondade quando estamos juntos de pessoas de grande espiritualidade???
Essa força nos toca e altera nosso estado psíquico. Certo é que quanto mais abertos estamos para recebê-la, maior é a força de sua transformação.
Quando a compaixão toca o coração, traz consigo outras grandes virtudes como arrependimento, alegria, bondade, força espiritual, etc. Por isso ela é capaz de redimir e purificar não só a nível superficial, mas também age dentro do psiquismo de quem recebe o ato de compaixão.
Certo é que os erros purificados voltam a acumular mais karma negativo quando a causa mesma dos equívocos não é eliminada. A compaixão dirigida a outra pessoa ou animal pode purificar (ou minimizar) o karma negativo que ele carrega, mas não pode eliminar um defeito o qual encontra-se dentro de sua mente. A não ser que haja anelo e abertura para a compaixão atuar e mover as alavancas do arrependimento e do perdão, o karma voltará a acumular, trazendo novos e futuros sofrimentos.
Por isso que o DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA é absolutamente único e individual. Ainda que a força da compaixão remova muitíssimos obstáculos, é necessário por em ação outras forças as quais atuarão em conjunto para a total liberação.
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