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Análise Transacional

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Análise
Transacional
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Por: Guenia Bunchaft e Vanda Leite Pinto Vasconcellos

Uma alternativa à Psicanálise para embasar teoricamente os testes projetivos seria a Análise Transacional. Essa teoria, formulada por Berne em 1959, parece-nos uma das mais coerentes com alguns aspectos relativos a esses testes e que julgamos essenciais, quais sejam:

1) Ênfase nos determinantes conscientes do comportamento; a Análise Transacional propõe que a maioria de seus conceitos se situa em nível não-consciente, mas não inconsciente, sendo mais fáceis de se recuperar do que os aspectos inconscientes. Estes conceitos estariam em uma zona à qual a pessoa não tem completo acesso, mas que pode passar a perceber e que corresponderia ao que Freud considerou, no primeiro tópico, o subconsciente.
2) Adoção de uma posição intermediária no eixo idiográfico-nomotético, o que nos levaria a compreender os aspectos idiográficos de cada indivíduo em função de diferenças individuais na padronização de variáveis comuns ou gerais. Nesse sentido, a teoria de personalidade formulada por Berne afirma que seus aspectos conceituais incidiriam em todas as pessoas, mas com várias combinações possíveis; estas combinações, aliadas às variações da experiência, resultariam nas peculiaridades próprias de cada indivíduo.
3) Aceitação dos princípios holísticos, segundo os quais o comportamento só seria compreensível enquanto inserido em um contexto global. Quanto a esse aspecto, a Análise Transacional percebe cada ser humano como uma unidade total, que vivencia as emoções de acordo com suas estruturas neurológicas e fontes emitentes de estímulos (contexto social).

Consideramos que a utilização da Análise Transacional como substrato teórico para a interpretação dos testes projetivos também é oportuna por sua opinião quanto à natureza humana. Conforme assevera Steiner (1974/1976)
… os seres humanos seriam, por natureza, inclinados e capazes de viver em harmonia consigo mesmos, uns com os outros e com a natureza (p.16).

Isso leva os analistas transacionais a terem, como uma das premissas básicas de sua teoria o conceito de que “todo mundo nasce ok”.

Para Berne (apud Steiner, 1974/1976, p.15) todas as pessoas nascem “ok”, ou seja, à exceção de possíveis problemas genéticos (por exemplo, Síndrome de Down), todas as pessoas têm, no momento de seu nascimento, todas as capacidades e potencialidades para se tornarem um ser humano plenamente apto. É famosa no contexto da Análise Transacional a alegoria segundo a qual todos nascem príncipes, mas depois o meio ambiente – sobretudo os pais e a família – faz com que os príncipes passem a se julgar e a se comportar como sapos. O objetivo da psicoterapia não seria transformar os sapos em príncipes, mas fazer com que os príncipes que se comportam como sapos se percebam como príncipes que são.

Seria conveniente lembrar que Berne é um otimista, insere-se com outros teóricos como Erikson, Rogers, Laing e outros numa visão otimista do homem. Sua posição contraria o modelo psicanalítico do conflito, cuja visão pessimista tem suas raízes num espírito de época do século XIX.

Em Análise Transacional, então, o objetivo da psicoterapia é conseguir que o indivíduo alcance a autonomia e reconquiste o estado de “okeidade”. O que significa autonomia? Segundo James e Jongeward (1983), em “Nascido para vencer” …ser autônomo significa governar a si mesmo, determinar seu próprio destino, assumir a responsabilidade por suas ações e sentimentos e desfazer-se de padrões irrelevantes e inadequados para viver no aqui e agora (p.263).

O fato de se atingir a autonomia pode ser constatado pela manifestação de três capacidades, todas conceituadas especificamente por Berne: consciência, espontaneidade e intimidade.

Resumidamente, consciência é o conhecimento do que está acontecendo aqui e agora, sem contaminações dos Estados do Eu; o indivíduo então “percebe o mundo através de seu próprio contato com ele em vez de vê-lo conforme lhe foi ensinado”. Isso implica ouvir as mensagens do próprio corpo, ouvir os outros e apresentar integração entre corpo e mente. Segundo as autoras anteriormente mencionadas, a pessoa consciente nesse sentido… não diz palavras cheias de raiva com um sorriso nos lábios, não franze o cenho quando a situação exige um sorriso, não fica escrevendo mentalmente uma carta de negócios quando faz amor… (p.264)

Espontaneidade é a liberdade de escolher no espectro completo de comportamentos e sentimentos dos Estados do Eu (Pai, Adulto, Criança). A espontaneidade leva o indivíduo a ser flexível, responsável por sua escolha e a tomar as suas próprias decisões.

Intimidade é a expressão dos sentimentos de calor, ternura e proximidade da Criança Livre em relação aos outros.

Kertész & Induni (1977), ao falarem sobre os critérios de alta em Análise Transacional, enfatizam a importância de que o cliente demonstre capacidade de intimidade (expressar e compartilhar emoções autênticas), espontaneidade (Criança Livre) e consciência das coisas no aqui e agora. Para compreendermos melhor esses pontos, seria oportuna uma breve digressão sobre os conceitos básicos de Análise Transacional, também chamados instrumentos da Análise Transacional. As formulações teóricas de Berne e seus seguidores foram organizadas por Kertész & Induni (1977) sob a forma de instrumentos que permitem a análise, o diagnóstico e a intervenção nas várias situações vitais.

A análise estrutural (de 1ª ordem) em Análise Transacional aborda a personalidade como sendo constituída por três Estados do Eu: Pai (P), Adulto (A) e Criança (C), que se expressam por comportamentos visíveis e não são constructos hipotéticos.

Estado do Eu é um sistema de pensamentos, sentimentos e emoções que se expressam por meio de pautas de conduta. Berne (1972) chamou de Estado do Eu Pai aquele sistema que é formado pelas normas internalizadas a partir das influências parentais e culturais; o Pai corresponde àqueles conceitos “ensinados”: O Estado do Eu Adulto é um sistema de processamento de dados do aqui e agora; é o “computador” da personalidade, que fornece critério de realidade e corresponde àquilo que é “pensado”. O Estado do Eu Criança é um sistema que engloba as emoções, sensações, processos e aspectos biológicos e corporais, correspondendo ao que é “sentido” pelo indivíduo.

Uma análise de 2ª ordem dos Estados do Eu mostra que o Estado do Eu Pai apresenta dois aspectos: (a) Pai Crítico (PC), evidenciado por comportamentos firmes, pelo estabelecimento de ordens, limites (PC positivo) ou por preconceitos e autoritarismo (PC negativo ou Pai Perseguidor); (b) Pai Nutritivo (PN), que se destaca por condutas afetivas, nutritivas, permissivas (Pai Nutritivo positivo) e superprotetoras (Pai Salvador)

Já o Estado do Eu Criança se subdivide em Criança Livre (CL), que se manifesta de forma autêntica, espontânea, criativa (CL positiva), ou egoísta e manipuladora (CL negativa). Por meio da Criança Adaptada (CA) o indivíduo responde automaticamente a disciplinas e rotinas apropriadas, podendo se expressar de forma submissa, desvalorizada, temerosa (Criança Submissa ou CS) ou de forma rebelde, desafiante e hostil (Criança Rebelde ou CR).

A Transação é a unidade básica do comportamento na teoria da AT. Constitui a linha efetiva de comunicação entre os Estados do Eu Pai, Adulto e Criança de duas pessoas e determina se a comunicação provavelmente continuará, cessará ou terá aspectos ocultos, sendo à base dos Jogos Psicológicos. Para Berne (1972, p.37) as Transações entre pessoas ocorrem de modo que elas possam estruturar o seu tempo, já que “a maioria das pessoas fica muito aborrecida ao enfrentar um período de tempo não estruturado”. As diversas formas de estruturar o tempo podem ser assim listadas, em função da quantidade de Carícias que propiciam: Isolamento, Ritual, Atividade, Passatempo, Jogo Psicológico e Intimidade.

Em Análise Transacional Carícia pode ser definida como o “estímulo intencional dirigido de uma pessoa a outra” (Kertész & Induni, 1977, p.69), seja físico, verbal, gestual ou escrito. Segundo a teoria da AT, a necessidade de Carícias é considerada a motivação básica de qualquer interação social humana, sendo indispensável ao funcionamento saudável do indivíduo. Apesar de a palavra ter, em nossa língua, um sentido positivo, a Carícia (“Stroke”) pode ser positiva (um beijo, um elogio) ou negativa (uma bofetada, uma crítica)

O conceito que cada indivíduo tem de si mesmo e dos demais configura a Posição Existencial (P.E). A escolha da P.E. é feita pelo indivíduo, geralmente antes dos oito anos de idade, com base nas reações das figuras parentais à expressão inicial dos sentimentos e necessidades da criança e é o principal componente do Script de vida do indivíduo.

O Script (ou argumento) é um “plano pré-consciente de vida, decidido antes dos 14 anos, sob a influência parental, que dirige a conduta do indivíduo nos aspectos mais importantes de sua vida” (Berne, 1972, p.41). O Script é desenvolvido a partir das mensagens parentais que a criança decide aceitar, internalizando-as. Essas mensagens são denominadas Mandatos – O QUE o indivíduo deve fazer para cumprir o Script. Para contrabalançar os Mandatos que os progenitores “gravam” involuntariamente na mente dos filhos, os pais emitem mensagens contra-argumentais verbais, socialmente edificantes, denominadas Compulsores. As mensagens contra- argumentais foram observadas por Kahler (1974, p.15) em inúmeras sessões de psicoterapia e eles as classificou em cinco categorias de Compulsores: Seja Perfeito, Seja Forte, Seja Apressado, Agrade Sempre e Seja Esforçado.

Para English (1971, p.21) Racket ou Disfarce é “uma emoção ou conduta inadequada, patológica, fomentada pelos pais ou substitutos na infância, que substitui uma emoção autêntica não permitida, que não obtinha carícias ou foi proibida”. São Disfarces: depressão, culpa, ansiedade, ciúme, confusão, vergonha, por exemplo.

As Emoções Autênticas originam-se no Estado do Eu Criança Livre (CL) e são: alegria e afeto, correspondendo ao estímulo prazeroso, e medo, raiva, tristeza, correspondendo ao estímulo desprazeroso. A Emoção Autêntica se diferencia do Disfarce por ser adequada ao estímulo e apropriada em termos de proporção.

A consequência lógica de uma teoria segundo a qual “todo mundo nasce ok” e que sublinha a possibilidade de recuperação dessa “okeidade” inerente ao indivíduo é a ênfase, tanto no psicodiagnóstico como na psicoterapia, nos aspectos positivos da personalidade.

De forma coerente com essa opinião, Isabel Adrados (1980), renomada especialista em testes projetivos, afirma que todo indivíduo dispõe de recursos positivos, por maior que seja o seu comprometimento emocional ou mental. Estes recursos deveriam ser investigados de modo a se encontrar uma posição mais sadia (mais “ok”) do indivíduo.

Da aceitação do conceito de “okeidade” decorre, igualmente, a possibilidade de uma leitura, digamos, mais quantitativa e objetiva do teste projetivo, com uma avaliação da incidência de variáveis. Alguns teóricos e estudiosos da Análise Transacional, em geral, têm trabalhado nesse aspecto quantitativo. Este é o caso de Dussay (1977), que elaborou o “egograma” – um instrumento de avaliação da estrutura da personalidade por meio de um gráfico de barras representando os Estados do Eu. É também o caso de Mc Kenna (1974), que desenvolveu um gráfico de “regime de carícias” do indivíduo, para citar apenas dois.

De sua parte, as Autoras do presente artigo têm buscado examinar e pesquisar mais detidamente esse aspecto. As Autoras (1992) procuraram validar o Teste de Zulliger à luz da Análise Transacional. Os resultados sugerem que a Análise Transacional é uma teoria adequada como referencial para os chamados testes projetivos.

Foi, assim, endossada empiricamente a opinião de Adrados (1980) de que os testes projetivos podem ser interpretados por meio da Análise Transacional, pois
… essa teoria, com todas as suas premissas e consequências, nos parece cada vez mais válida, especialmente quando a comparamos com a técnica de Rorschach; isto é, podemos perfeitamente explicar grande parte dos conceitos e variáveis do Rorschach, dinamicamente, à luz dos princípios, das premissas e da teoria da Análise Transacional… (p.34).


Referências Bibliográficas

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Fonte: http://www.psicometria.psc.br/artigo4.htm

Veja mais aqui:

AT – Conceitos de Análise Transacional

 

 

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